16.7.05

Da entrega


Não que o que se detém na parte mais íntima de si mesmo seja objeto por demais precioso. Não que o fato de conservar esperanças utópicas seja tão louvável quanto manda a pieguice. Com o passar dos tempos se percebe que por mais atrativos que sejam os conceitos de carpe diem, eles sublimam os prazos de validade.

O fato é que mesmo sendo fulgazes, as coisas devem ser vividas. Intensa e ensimesmadamente. Como se uma camada de tempo fosse recortada e colocada a parte do todo, como se um casulo envolvido de pensamentos mágicos em proximidade de completude fossem erguidos.

O amanhã não se pensa. Se espera, como toda sentença deve ser aguardada. Não, isso não sonega a capacidade de sonhar, pelo contrário, a estimula. Com todo o pé no chão possível.

11.7.05

Do Kamikaze e os laços afetivos

Não que propagar discursos entusiasmados acerca da maturidade sirva de alguma coisa. Não que quem os propague seja maduro. O fato é que as pessoas surpreendem quando decidem viver de maneira kamikaze. Não é condenável, de fato, se lançar a novos horizontes, viver intensamente, como um carpe diem sem fim, produzido pela ânsia de "ser-mais-feliz". O que impressiona não é a vontade de viver intensamente e "gastando-tudo-bem-rápido". O que chama atenção são os meios utilizados para tanto. A felicidade só vale os riscos quando não há fulgacidade, quando há garantia de progressão e futuro, quando é palpável "no-além-e-no-agora" e não apenas no imediatismo.

Decerto que não se procura tristeza, decerto que se busca a plenitude utópica, decerto que não vale a pena usar sentimentos alheios, fazê-los de joguete, usando de artifícios esquizofrenóides, se escondendo no "personagem-de-si-mesmo", mentindo mais pra si que para qualquer outro.

Não se procura condenar atitudes kamikazes. Da mesma maneira que não se deve procurar entendê-las ou perdoá-las. Os jogadores são vistos pelos olhos alheios com pena. Pelo vício, pela coberta, pelo vazio que não se preenche, pela busca que não se acha-talvez-porque-não-haja-merecimento.

Para o sociólogo polonês Zygmunt Bauman, os laços andam cada vez mais frágeis, o amor se põe líquido, dissociável, substituível, vítima de uma espécie de consumo, como escolhas de shopping center mesmo. Talvez o problema seja esse. A falta de maturidade transforma a vida "amorosa" numa grande loja de departamentos, na qual as coisas vão sendo substituídas de acordo com o orçamento ou a moda. O "relacionar-se" se reduziu a uma atitude fútil, como milhares de outras. As pessoas não saem de moda, os sentimentos também não. Pro nosso azar, ter caráter virou coisa cafona.

Que os laços se esvaiam como cortina de fumaça bonita que só continua bem vista por segundos. Que a maturidade chegue, que se aprenda mesmo que na porrada. Sentimento não se compra, não se empresta. Se reforma. E isso aconteceu mais rápido que pensei.

Se acaso há algum tipo de dor, agonia ou angústia ela se deve única e exclusivamente ao credo. Ao achar que, sim, as pessoas devem ser acreditadas no que dizem. Pena que essa sim é a realidade utópica.

2.7.05

De momento

"Chorar por tudo que se perdeu, por tudo que apenas ameaçou e não chegou a ser, pelo que perdi de mim, pelo ontem morto, pelo hoje sujo, pelo amanhã que não existe, pelo muito que amei e não me amaram, pelo que tentei ser correto e não foram comigo. Meu coração sangra com uma dor que não consigo comunicar a ninguém, recuso todos os toques e ignoro todas tentativas de aproximação. Tenho vergonha de gritar que esta dor é só minha, de pedir que me deixem em paz e só com ela, como um cão com seu osso. A única magia que existe é estarmos vivos e não entendermos nada disso. A única magia que existe é a nossa incompreensão."

Caio F.